Ela era tão velhinha que foi uma grande escola de mecânica. Do aprendizado eu passei a consertar motos dos meus amigos. De uma coisa a outra, virei competidor em corridas de motorcicleta, com uma "suposta" autorização dos meus pais, pois tinha apenas quinze anos. Provavelmente, uma das maiores descargas de adrenalina que já tive. Me preparei bastante, com muitos treinos e os inevitáveis tombos, mas sem maiores consequências. Mas 3 semanas antes da minha primeira corrida, tive um acidente na rua com a moto de um amigo e a última coisa que eu vi da moto inteira foi o velocímetro marcando 100 km/h. Após isso, arranhões para todos os lados, pois eu estava de short e mais nada. Além de ter que voltar para casa pilotando a moto, todo ralado, com a manete de embreagem partida e palmas das mãos praticamente sem digitais, tive que encarar o frio, pois anoiteceu e ainda a conta para pagar os danos. Pagar a conta da bobagem era o que mais me causava dor.
Passei vários dias em carne viva até formar as casquinhas. Três semanas passaram e chegou o dia da corrida. Ainda estava bem machucado, mas vencer a corrida seria uma boa forma de obter dinheiro para ajudar a pagar dos danos. Na véspera da corrida, sem hesitar, fui treinar. Durante o treino algo totalmente inusitado ocorreu - o pneu dianteiro furou e, ainda que em baixa velocidade... um tombo. Continuei equipado, troquei o pneu e continuei os treinos com muita dor. Quando cheguei em casa, não deu para tirar o macacão de couro. O sangue havia coagulado junto com o tecido e estava todo grudado. Dormi com macacão na garagem!
Amanheci desta forma no dia da minha primeira corrida oficial. Meus amigos me desestimulavam a competir pelo meu estado, mas eu estava determinado. Porém, novo imprevisto e desta vez foi a moto que não pegou para as voltas classificatórias. Consegui consertar depois de 40 minutos, mas larguei na antepenúltima posição(19), escolhida por sorteio. A corrida começou, houve um grande acidente envolvento quase todos os participantes, caí , me levantei e ainda ganhei 8 posições na primeira bateria, chegando em décimo primeiro lugar. Eu não conseguia caber em mim com tanta euforia. Daí o pessoal da equipe disse que a moto estava excelente e com tudo para vencer e por isso eu deveria deixar outro piloto com mais experiência que quebrou a sua moto correr no meu lugar. Nessa hora eu hesitei, pois era como tirar o doce da boca da criança, mas me lembrei da conta a pagar e concordei com a substituição. O outro piloto experiente perdeu 4 posições na largada e ainda terminou a corrida nas últimas posições.
Tirei muitas experiências disto tudo. A primeira, é que a vitória sobre você mesmo é melhor do que qualquer vitória sobre os outros, pois ela faz você crescer e este crescimento é que permite você vencer oponentes. O piloto exeperiente não tinha os mesmos motivos que eu tinha, então concluí que experiência é menos importante do que determinação. A moto era a mesma, mas quem estava em cima era um leão com fome. Com a experiência da corrida, aprendi que os erros naquele esporte eram muito dolorosos, e optei por evitar esta dor, abri mão deste esporte e foquei no automobilismo - sábia decisão.
Hoje, reflito ainda mais. O mundo tentará fazer você acreditar que não pode. O mundo vai tentar fazer você ser um "conformista". Não caia nesta cilada. Acredite sempre em você. Tenha um bom motivo para fazer as coisas e você fará. Tenha um bom motivo para não fazer as coisas e você não fará. É tudo uma questão de escolha e aquilo o que você alimentar crescerá.
"É preferível viver um dia como leão,
do que uma vida como ovelha".
-- provérbio Romano
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